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Delírio a dois

Foto do escritor: LanternaLanterna

'Delírio a dois' complementa o título do novo filme do Coringa, mundialmente estrelado no mês de Outubro em 2024. O termo, alcunhado pelo jargão psiquiátrico, precisa partir primeiro do significado de delírio, antes de ser visto como um estado compartilhado.


Em sua obra "Psicose e Neurose" (1924), Freud aborda as características dos estados psicóticos, o que pode ser usado como ponto de partida para a compreensão do delírio compartilhado.


Para Freud, a neurose surge como resultado de um conflito entre os desejos inconscientes reprimidos e o ego. Esses desejos, frequentemente ligados às pulsões sexuais, não são aceitos pelo ego, levando à repressão.


No entanto, o conteúdo reprimido continua a exercer pressão sobre o ego, resultando em sintomas neuróticos como ansiedade, fobias, ou obsessões. Na neurose, o ego mantém uma conexão com a realidade, mas cria mecanismos de defesa para lidar com os impulsos internos que não consegue aceitar.


Freud postulou que o neurótico tenta "evitar" o conflito com a realidade ao desviar a energia psíquica para sintomas ou comportamentos que tornam o conflito menos evidente. Esse processo geralmente envolve a formação de sintomas como mecanismos de compromisso entre o desejo reprimido e a censura do ego.


A psicose, por outro lado, é vista por Freud como uma ruptura mais severa com a realidade. Aqui, o ego não apenas reprime os impulsos, mas tenta negar a realidade em si. O indivíduo em estado psicótico muitas vezes cria uma nova realidade para lidar com a angústia interna, como vemos nos delírios e alucinações.


Freud descreve a psicose como uma "retirada da libido do mundo externo", com o ego substituindo a realidade externa por uma realidade interna mais aceitável. No caso da psicose, o conflito é tão intenso que o ego não consegue manter sua relação com o mundo externo. Ao invés de usar mecanismos de defesa para negociar com os desejos reprimidos, o ego rompe completamente com a realidade, e isso se manifesta em delírios ou alucinações.


Ele observa que tanto a neurose quanto a psicose são, em última instância, reações a uma perturbação na relação entre o ego e o mundo exterior, mas enquanto a neurose preserva essa relação, a psicose sacrifica o contato com a realidade.


Apesar de Freud, Lacan ou Jung não tratarem diretamente de "delírio a dois", a psicanálise incorpora estudos relacionados ao delírio e à psicose. No caso do sintoma compartilhado, há uma dinâmica estabelecida por uma conexão emocional.


O personagem "central", ou "primário" arrasta o segundo, geralmente mais fraco psicologicamente, para os seus sintomas, o que os levaria à fusão de elementos inconscientes e comportamento similar diante de situações extremas.


Em Coringa 2, o audiovisual cindiu os momentos "reais" dos "delírios" pela representação musical. As cenas em que cantam e performam mostram esse paralelo psicológico para um mundo mágico e menos hostil, em que ambos podem se expressar livremente e se comunicar.

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