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Complexo

Foto do escritor: LanternaLanterna

Alguns "complexos" são mais famosos que outros para a psicanálise, graças à cultura popular. Dos que me lembro agora, temos o complexo de inferioridade, e o complexo de grandeza. Na cidade onde cresci, no interior, também ouvi muito o termo guarda-chuva para tratar de alguém medroso ou inseguro: "fulano é complexado".


Assistindo ao documentário "O pai de mil filhos", da Netflix, podemos fazer o gancho com um dos complexos mais explorados pelo cinema de forma geral, que seria o " complexo de Deus", um termo bastante simpático, também, ao "complexo do inconsciente", quando existe uma forte identificação da pessoa com personagens, mitos, ou forças ocultas.


O documentário conta a história de um jovem holandês com grandes ideais aspiracionais sobre sustentabilidade e liberdade geográfica, que então passa a doar sêmen para casais que não conseguem engravidar. Parte da base do que o leva a propor a ajuda, é a filantropia e a motivação humanitária.


No entanto, algo que devia ser restrito para poucos casais, porque existem regras regulatórias na doação de material genético, sai totalmente do controle regulatório, povoando, o homem, a Europa inteira, com seu rastro genético.


Estimativas sugerem mais de mil filhos, o que pode se tornar um problema futuro por conta da consanguinidade, ou seja, irmãos que não se conhecem formando famílias entre si.


Ocorre que, mesmo com todos os alertas, pedidos das mães, e até liminares judiciais para o conter, o homem simplesmente recebeu mais gás para que continuasse, fazendo com que a gente pense que mil filhos seria, na verdade, uma estimativa muito otimista.


O documentário ganha contornos sombrios quando a investigação leva o esquema à proporção internacional de uma seita clandestina, que deseja "embranquecer" os filhos de uma "nova ordem" no mundo.


A crença na auto superioridade, inclusive misturando atributos que são considerados divinos como próprios, ou na auto denominação de uma importância muito maior que a média, nos sugere algumas implicações psicológicas e sociais pautadas pelo "complexo de Deus".


Isso está ligado à história que eu trouxe por meio de algumas características comuns, como grandiosidade, infalibilidade, poder, e necessidade de validação extrema, exatamente como ocorre na adoração.


Em "O Futuro de uma Ilusão" (1927) e "Moisés e o Monoteísmo" (1939), Freud discute a religião e a figura de Deus sob a perspectiva psicanalítica. Ele argumenta que a crença em um Deus onipotente e protetor é uma projeção dos desejos humanos por segurança e proteção, reminiscente da relação infantil com o pai.


Por mais que as mães tentassem convencer o doador de que parasse, mostrando sofrimento e angústia, a preocupação do homem era a de promover a qualidade do ato, ampliando a importância do que estava fazendo, como um "realizador de sonhos".


Contudo, o prejuízo emocional das famílias é incalculável e, o homem, que nasceu em uma família bastante numerosa, ainda deseja povoar o mundo de filhos, inclusive tentando convencer a Justiça americana, de que estaria presente em todos os aniversários e eventos, como um pai cuidadoso e interessado.


Bizarro, não?




 
 
 

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